Uma bacia de plástico foi a
grande convidada da noite de 23 de junho, véspera de São João. E eu, estava
crente que depois do jogo o amendoim japonês seria a coisa mais próxima das
guloseimas juninas que eu provaria. Enganei-me feio. Thiago e Denyse nos convidaram
para uma festa de São João no bairro Novo Horizonte.
Eu fiquei internamente feliz,
acho que externei essa alegria na roupa xadrez que vesti para a ocasião. Alegria
justificada, já que há tempo não sinto o calor da fogueira arder meus olhos enquanto as bandeirolas dançam soltas o forró
pé de serra, nem aquele cheiro de pólvora que as bombas estouradas pelos
meninos traquinas deixam no ar.
Chegamos a tempo de erguer o
barbante, puxando uma ponta dos pés de manga até o retrovisor do caminhão
estacionado no pátio da casa de dona Magnólia. Eram bandeirolas de papel que cortamos
de revistas e por isso tinham muitas formas e rostos diferentes, mas no final,
quando já estavam todas penduradas e sendo guiadas pelo vento, era como se os
rostos estampados estivessem felizes por estar na festa junto com a gente.
No chão de terra, igualzinho ao
daqueles no nordeste, a fogueira havia sido montada, alta e de troncos largos,
tinha tudo para queimar a noite inteira. E queimou. A brasa estalava e ardia no
vermelho da chama, a fumaça aguava-me os olhos que teimavam em querer ficar
olhando para as pequenas faiscais subindo para o céu até se confundirem com
estrelas.
A alegria de estar em família é
sempre igual, e a família de Thiago é muito animada. Lucas, o pequeno foi a estrela da noite, sem sanfona nem
botinas ele me fez dar boas gaitadas de riso à noite toda. Com apenas cinco
anos sabe bem que quer: “um tabet com utubi, jogos, facebook e zapzap”. Ah, e
uma bicicleta. Ufa, menos mal. E não é papai Noel quem vai lhe dar, ele irá
comprar nas casas Bahia com seu próprio
dinheiro arrecadado no cofrinho. Ele me disse que já tem 38 moedas, falta pouco
Lucas.
E assim seguimos a noite,
sentados em circulo jogando conversa fora e ouvindo estórias de quem tem mais
experiências. Gosto de ouvir essas estórias, particularmente as de outras
gerações e outros tempos. Enquanto isso, comíamos canjica, amendoim, cachorro
quente e bolo de aipim (Mané pelado) como me foi apresentado.
Lá pelas tantas, a matriarca
segura à bacia de plástico e dá algumas voltas na fogueira fazendo uma reza,
depois que ela parar, quem olhar para a bacia e se ver, chega até o próximo São
João. Quem não tiver sorte, pode não dançar o próximo forró. Fiquei com medo de olhar e não me ver, mas
acabei olhando e lá estava eu, no fundo da bacia sorrindo aliviada pra mim
mesma. Ufa!
E não parou por aí, a noite
esteve recheada de superstições. Em outra, a moça põe duas brasas da fogueira na
bacia, que representam ela e o amado. Se as brasas ficarem juntas é porque vai
ter casamento, se não, é separação na certa.
Por essas simpatias, pensei que
estava na festa do santo errado, santo Antônio que é o santo casamenteiro. São João
é o “festeiro”, mas dona Magnólia nem se importou, e ensinou mais uma: um fio
de cabelo é amarrado em uma aliança, a pessoa vai pra perto da fogueira com um
copo com agua até a metade, mergulha a aliança e quantas vezes ela bater no copo significa
quantos anos demora para a pessoa se casar. Fiz o “teste” e o meu não bateu
nenhuma vez, ela disse que quando é assim, casa no mesmo ano.
Sem dúvida essa foi uma noite
achada. Um serendipete no meio do calendário, uma noite fria e estrelada de
junho que me levou para mais perto de casa, com direito à eterna discursão da canjica
X mungunzá.